VIEIRA DO MINHO... QUANTO CARINHO!
Era uma vez uma terra que não tinha aeroporto, caminhos-de-ferro, nem porto de mar!
Também não tinha arranha-céus, grandes indústrias, nem auto-estrada!
Era uma terra onde o tempo passava devagar,
Tão devagar que se dizia que nela não acontecia nada…
Era uma vez uma terra encantada!...
Encantada pela verdura dos seus campos!…
Encantada pela fertilidade das sementes!...
Encantada, e muitos eram os encantos,
Engrandecidos pela pureza das suas gentes,
Que a todos acolhiam sorridentes, com abraços quentes, e contentes!...
Era uma vez uma terra,
– Sim, uma terra, era uma vez!...
– Nascida nas encostas duma serra,
Fosse ela da Cabreira, ou do Gerês!...
Era uma vez uma terra!… Uma terra encantada!... Talvez!...
Com montes e vales, pontes e rios, muitos desafios…
Todos tinham que a conhecer, e aprender,
A história gravada em rostos sadios, e nos casarios,
Achados antigos, marcados, artigos, para nunca esquecer!...
Caminhos traçados, animais destemidos que do alto aos baixios vêm beber!
Era uma vez uma terra da qual não se perdia a imagem,
Como se fosse a pintura nobre de um museu, sua moldura, sua tela,
Pintada de azul e verde, todas as cores, na paisagem,
Uma tela natural, que se podia passear nela, tão bela, e singela…
Águas em silêncio sobre as pontes das lagoas, das barragens, ou agrestes na Misarela!...
Mais que tela, era uma vez uma terra que envolvia intensamente…
Os olhos não viam, mas o vento, as aves, as árvores, o silêncio, eram ouvidos!
E nela uma vez envolvidos, loucamente,
Perfumes e odores saem das cozinhas dos pastores – os sabores mais apetecidos…
Era uma vez uma terra que envolvia em todos, e por todos, os sentidos!...
Era uma terra onde a pureza da vida ainda era real,
Onde se encontrava a paz, a saúde, a alegria, a felicidade…
Porque tinha tudo o que era natural,
E era fácil o acesso à civilização, ao progresso, à cidade…
O mar e as praias não estavam longe, o aeroporto, a modernidade!
Era uma terra onde o progresso ainda não tinha trazido o que há de negativo:
– A indiferença, nua e crua, entre as pessoas da rua; o trânsito; o stress; a poluição…
– Os afectos partilhavam-se quer se fosse ou não fosse conhecido,
Nenhuma pessoa se cruzava sem haver uma saudação,
Por isso esta terra entrava, e ficava, no coração! Que sensação!...
Uma terra onde sonhar ainda era permitido,
Onde a fantasia pairava como bruma sobre as encostas ao amanhecer,
E os raios de sol faziam brilhar de todas as cores as gotas do orvalho na noite caído…
Ou então, porque não, passar noites ao serão, sobre céu, até o sol nascer,
Ver as estrelas tão brilhantes, cintilantes, como se muito tivessem para nos dizer!...
Ouvir a noite, sons estranhos, das árvores, das águas, dos animais, sei lá que mais…
Talvez fadas, duendes, gnomos, seres misteriosos que descem das montanhas,
Coisas que se podem imaginar, por todas aquelas florestas, abismais,
Sei lá que coisas, viajam nas águas, nos ventos, coisas sem corpo, e tamanhas,
Coisas normais para os habitantes locais, mas que aos outros entram pelas entranhas!...
Terra de vários concelhos formada, termos, coutos e vilas, extintos,
Testemunhos, muitos, arqueológicos achados,
De povos antigos habitando seus labirintos,
Mamoas, menires, figuras rupestres, castros, e utensílios pouco explorados,
Todos os tempos humanos podem aqui ser recordados!...
Suevos, Romanos, Napoleónicos e Liberalistas
Todos em ti fizeram história!...
Basta olhar atentamente e se encontram as pistas,
O foral de D. Manuel fica retido na memória,
Mas quantos mais actos te levaram, e levarão, à glória!
Quero passear na via de Astorga como os romanos,
Abrigar-me como os pastores nos abrigos da Serradela,
Caçar os lobos nas armadilhas, levados com enganos,
Ou ler a pedra escrita no vale do Turio – o que diz ela?!...
…Ninguém levará a mal, se dançar, no festival, da ilha do Ermal – vida bela!
…Porque a harmonia entre a terra e o homem permanece,
Após muitos anos de história – e de histórias… que histórias! – de um longo passado,
Não há o dia em que por estar ferida a natureza se enfurece,
Como noutras terras acontece, por seu equilíbrio haver sido provocado!
– Como esta terra não há outra em nenhum lado!...
Para que serve a civilização, a ciência, a tecnologia,
Se não trazem ao homem o que ele precisa no seu caminho,
E que esta terra tem, envolto em poesia…
– Alimento, ar puro, tempo, ternura – amor – e carinho…
Só em ti, minha…Vieira do Minho!
(Dedicado a Vieira do Minho, 2007)